Passamos por um período que até poucos meses era inimaginável, nos vemos frente a um inimigo oculto, traiçoeiro, poderoso, altamente contagioso que se transmite facilmente pelo contato homem-homem, sem nenhum vetor, que provoca uma doença fatal em alguns grupos etários posto que não existe tratamento eficaz, não temos vacinas para nos imunizar, diante desse cenário os governos da maioria dos países adotaram medidas de confinamento social no sentido de conter a pandemia e protegendo o sistema hospitalar do colapso, nos obrigando a permanecer em nossas casas.
A Violência Doméstica e o Covid 19
Infelizmente, ficar em casa pode não significar o local mais seguro para milhões de mulheres em todo o mundo. O lar é onde as mulheres experimentam violência nas mãos de seus cônjuges ou familiares estendidos. A violência doméstica , inclusive física, sexual, reprodutiva, emocional ou econômica, levando a consequências à saúde mental e física, incluindo a morte.
As vítimas ficam presas em casa com abusador, com baixa proteção, pois se encontram socialmente distante da família, amigos, vizinhos, colegas de trabalho, com isso se torna presa indefesa e impotente.
No atual momento a maior preocupação da Organização Mundial de Saúde é a pandemia do COVID19, no entanto não deixa de estar atenta ao tema da Violência Doméstica, que ela considera uma violação aos direitos humanos, um problema de saúde pública e um impedimento ao desenvolvimento das mulheres e crianças.
No mundo 1 mulher em cada 3 sofrem algum abuso sexual ou físico de parceiro íntimo e que cerca de 60% a 90% das mulheres violentadas não denunciam o agressor e nem procuram ajuda em qualquer organização de apoio.
As adolescentes, jovens, mulheres pertencentes a minorias étnicas e mulheres com alguma deficiência enfrentam maior risco de diferentes formas de violência.
Conforme o Fórum Brasileiro de Segurança Pública (FBPS) neste período de confinamento social o número de denúncias caiu quando comparamos março 2019 com março de 2020, em alguns estados a redução chega à 29% (Ceará e Acre).
Esse número é conflitante com os dados colhidos pelo FBSP que indica, o aumento de feminicídios, no Mato Grosso o aumento foi 400%, em São Paulo o número de vítimas subiu de 13 para 19 mulheres assassinadas.
O coronavírus e a realidade de muitas vítimas
Logicamente, as mulheres estão encontrando sérias dificuldades de irem a uma delegacia prestarem queixas contra seus agressores, outro fator agravante é a obrigatoriedade da realização do exame de corpo de delito, com isso elas se expõe ao risco de contraírem corona vírus.
Uma permanência prolongada, 24 horas por dia, 7 dias por semana, aumenta o uso do espaço doméstico e dos recursos para atender a maioria dos itens essenciais da vida diária, aumentando a frequência de interações entre parceiros íntimos e, assim, oportunidades de conflitos conjugais.
Não podemos imaginar a ansiedade e o terror que as vítimas estão sentindo, convivendo muitas vezes em domicílios pequenos, insalubres, com seus filhos menores assistindo as cenas da mãe sendo agredida de maneira brutal e o pior indefesa, isso sem pensar que eles além de vítimas emocionais também podem se tonar vítimas físicas.
Possíveis soluções para mulheres vítimas de agressão
Ficarmos indiferentes ao quadro exposto, assistindo as autoridades brasileiras, que não saberia dizer se são omissas ou incapazes, se digladiarem por votos dessas mulheres em uma eleição sem procurarem uma solução para tão grave situação.
A título de sugestão podemos indicar três programas, que são espelhos de ações governamentais para atender pacientes do COVD19, para mitigar esse imenso problema:
- Facilitar acesso as linhas telefônicas de canais de denúncia, hoje temos uma linha telefônica do SUS para orientar a população;
- Patrocinar segurança financeira, a exemplo do Auxílio Emergencial recém criado no Brasil para atender a população durante a quarentena;
- Proporcionar abrigo seguro e proteção às vítimas, foram levantados em dias hospitais de campanha para atendimento aos doentes .
Senhores governantes é interesse do povo brasileiro que tenhamos um programa sério sobre a integração da prevenção e mitigação da violência doméstica nos esforços de alívio da COVID-19.
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